terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Quero-te às dez da manhã

Quero-te às dez da manhã, e às onze, e às doze do dia. Quero-te com toda a minha alma e com todo o meu corpo, às vezes, nas tardes de chuva. Mas às duas da tarde, ou às três, quando me ponho a pensar em nós os dois, e tu pensas na comida e no trabalho diário, ou nas diversões que não tens, ponho-me a odiar-te surdamente, com a metade do ódio que guardo para mim.

Mas logo volto a querer-te, quando nos deitamos e sinto que foste feita para mim, que de alguma forma mo dizem o teu joelho e o teu ventre, que as mãos me convencem disso, e que não há outro lugar onde eu venha, aonde eu vá, melhor que o teu corpo. Tu vens toda inteira ao meu encontro, e desaparecemos os dois um instante, metemo-nos na boca de Deus, até que eu te diga que tenho fome ou sono.

Todos os dias te quero e te odeio irremediavelmente. E há dias também, há horas, em que não te conheço, em que me és estranha como a mulher de outro. Preocupa-me os homens, preocupo-me comigo, distraem-me as minhas penas. É provável que não pense em ti durante muito tempo. Já vês. Quem poderia querer-te menos do que eu, meu amor?

Jaime Sabines

1 comentário:

Anónimo disse...

Um texto controverso e realista! Gostei! Apesar da controvérsia aparente, entendo-a e a verdade é que "nada é perfeito". São pequenos momentos de "ódio" que se instalam em nós mas também são eles que nos fazem avaliar e nos fazem ter sentimentos mais intensos e profundos, quer na presença ou na ausência da pessoa amada. Há quem decida morder!:P amo-te*